Ícone da poesia portuguesa, Fernando Pessoa morria há 80 anos

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O mundo lembra, nesta segunda-feira (30/11), os 80 anos da morte do poeta português Fernando Pessoa. Nascido em Lisboa no dia 13 de junho de 1888, ele morreu apenas 47 anos depois, vítima de complicações hepáticas, em um hospital na mesma cidade.

Pessoa passou o início da sua vida – dos 6 aos 17 anos – morando na África do Sul, o que justifica a presença em sua obra de poesias também em inglês, além de traduções de obras de como autores como Shakespeare e Edgar Allan Poe da língua inglesa para a portuguesa. Aos 17 anos, ele retorna para a terra natal.

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Apesar de atualmente ser considerado uma das grandes representações da poesia portuguesa, Pessoa só passou a ter reconhecimento cinco anos após sua morte, com a descoberta de um relicário que reunia fragmentos de contos, traduções, críticas e toda sorte de anotações. Especialistas afirmam que durante a ditadura de Salazar, o poeta não chamava atenção porque suas ideias, apesar de modernistas, não tinham conteúdo político.

Heterônimos

Não sei quantas almas tenho
Cada momento mudei
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem acabei
De tanto ser, só tenho alma
Quem tem alma não tem calma

A qualidade da poesia de Pessoa se multiplicava sob os nomes de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, poetas que ele criou e que possuem, cada um personalidade e biografia próprias:

Alberto Caeiro

“O guardador de rebanhos” é o nome da série de poemas de Caeiro, que define bem esse poeta criado por Pessoa: Nasceu em Lisboa em 1889, mas passou quase toda a vida no campo. Não teve profissão, nem educação, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso em 1915. A naturalidade marca seus poemas:

Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu…

Ricardo Reis

Nascido em 1887, Reis escreve poemas que trazem índole pagã, inspirado na cultura greco-latina que defendia o preceito grego do “carpe diem” (viver o “aqui e agora”). Ele foi também influenciado pelo estoicismo, escola de filosofia que rejeitava as emoções e os sentimentos exacerbados. Fernando Pessoa não apontou o ano da morte de Ricardo Reis, o que inspirou o escritor português José Saramago a escrever o romance O ano da morte de Ricardo Reis, que foi publicado em 1984, e aponta que ele teria falecido em 1936.

Vive sem horas. Quanto mede pesa,
E quanto pensas mede.
Num fluido incerto nexo, como o rio
Cujas ondas são ele,
Assim teus dias vê, e se te vires
Passar, como a outrem, cala.

Álvaro de Campos

Álvaro de Campos é um engenheiro naval e viajante que se encontra no extremo oposto de Ricardo Reis. Em seus poemas, ele exalta a civilização moderna e os valores do progresso, e tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Um dos heterônimos mais conhecidos de Pessoa, Campos viveu de 1890 a 1935.

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Pessoa fez o seu primeiro poema ainda na infância, para a mãe, e também morreu escrevendo. Sua última frase foi escrita em inglês, no dia 29 de novembro de 1935:

“I know not what tomorrow will bring”

“Eu não sei o que o amanhã trará”


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